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Território da Música: Artigos (Rock)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Genesis - The Lamb Lies Down On Broadway (1974)


Embora 1974 possa ser visto como o ano do apogeu dos excessos do rock progressivo, este album é sombrio e frágil, com uma instrumentação frugal. Gravado na zona rural do País de Gales numa época difícil para o Genesis - os vocais de Peter Gabriel foram registrados à parte, no Island Studios, em Londres -, o disco, na verdade, mostra o grupo em sua melhor forma.

Gabriel, naqueles tempos, era considerado um compositor sério e tomou para si a tarefa de escrever um Pilgrim´s Progress (O Peregrino) moderno. A obra conta a história de Rael, um punk de rua porto-riquenho que se veste todo de couro. Um dia ele vê um cordeiro - isso mesmo - deitado em plena Broadway. Pode-se questionar se alguem, inclusive Gabriel, entendeu a história, mas o album duplo contém sua letras mais consistentes e a performance instrumental mais expressiva da banda.

"Back In NYC", mais tarde revisitada por Jeff Bucley em suas últimas gravações, é um anuncio do punk; "In the Cage", com oito minutos, marca o climax do album, assim como "Supper´s Ready"; "Carpet Crawlers" foi outro hino do grupo; e "The Chamber Of 32 Doors" permite que Gabriel libere a soul music na qual havia mergulhado quando era adolescente.

O album, que tem uma capa limpa e moderna, foi finalmente lançado, sob aplauso geral, em 1974. É um disco de vocalista, o que explica por que os musicos o odiaram e pro que Gabriel o adorou. É claro que ele não teria mais tanta liberdade no Genesis e, ao final da exaustiva turnê mundial para a divulgação do album, Gabriel deixou o grupo.

Pink Floyd - The Dark Side of The Moon (1973)


Solos de guitarra de acid blues. Letras que falam de desgraças e guerras. Um título espacial. Lançado em 1973 por um grupo de anônimos, mas de grande influência.

Esta é a descrição de Cosmic Slop, do Funkadelic. Não tem nada a ver com The Dark Side of The Moon, exceto pelo fato de que ambos são a trilha sonora de uma era de cinismo, quando o caso Watergate e a Guerra do Vietnã mataram o que havia sobrado do espírito dos anos 60 depois do Altamont.

Esta obra de época teve, porém, um início banal. Ansiosa para se desprender dos grilhões psicodélicos, a banda se reuniu na cozinha do baterista Nick Mason para fazer uma lista das coisas que a incomodavam. Essas preocupações - tempo, dinheiro, loucura, morte - foram combinadas com musicas no estilo meio funk rock de Obscured By Clouds e apresentadas numa turnê, durante um ano, com o nome de Eclipse (A Place For Assorted Lunatics). Salpicada pelo pozinho mágico dos estúdios - vocais gospel, solos explosivos, efeitos sonoros -, Eclipse virou The Dark Side of The Moon. Na esteira da fama angariada pela banda nas apresentações ao vivo, o album vendeu um milhão de copias nos EUA e foi para a estratosfera quando a Capitol, associada à Harvest, transformou "Money" num raro hit do Floyd em single.

Hoje o album pode ser encontrado em edições comemorativas e já foi regravado por um grupo de reggae de paródias (Dub Side of The Moon, de 2003) e pelo Phish. Quando a capa é aberta, surge um prisma que reflete um raio de luz, de forma infinita. Uma das imagens míticas do rock, o prisma evoca tanto o lendário show do Floyd quanto a ambição "exagerada" das letras.

Com essa carga simbolica, podia se esperar que o album fosse uma chatice. Mas, na verdade, é uma coleção de canções brilhantes, melodiosas e vibrantes. Para os iniciantes em Pink Floyd, esse é o primeiro passo.

Led Zeppelin - Led Zeppelin II (1969)


O segundo album do Led Zeppelin é mais notável pelo curto espaço de tempo que seus criadores tiveram para aperfeiçoa-lo - Led Zeppelin II foi gravado durante os intervalos dos shows, em meio a uma turnê nos EUA. De certa forma, parece claro como a pressa tornou o album melhor: as faixas "Whole Lotta Love", "The Lemon Song" e "Bring It On the Home" são baseadas em clássicos eternos do blues e mantém uma crueza que teria sido polida se houvesse mais tempo e dinheiro.

A banda consegue, de modo ainda mais impressionante conservar todas as sutilezas, apesar da pauleira das apresentações ao vivo que encarava todas as noites: os principiantes tem de ouvir "Ramble On", uma bela e multifacetada balada acústica com um refrão opressivo que sintetiza os principios basicos da banda - riffs pesados e pouca moderação. "Thank You" é outro trabalho acústico extremamente bem executado, mas o que torna o album soberbo até hoje são os sons grandiosos de Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham.

"Whole Lotta...", em particular, conseguiu superar a barreira do tempo, ja que foi, durante anos, tema do eterno programa musical da Tv Britanica Top Of The Pops e figurinha fácil no album de favoritos de qualquer amante do rock. De fato, canções como esta entraram e reentram tantas vezes nos cânones do rock que ultrapassaram o ponto de clichê e se eternizaram como intens do vocabulário musical. Tudo isso faz com que seja ainda mais fascinante o fato de este segundo disco do Led ser tão cheio de luz e sombra.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables (1980)


Não é por acaso que o album de estreia dos Dead Kennedys foi lançado no ano em que Ronald Reagan foi eleito presidente dos EUA. A postura populista de direita de Reagan, combinada com o fundamentalismo cristão, serviu de contraponto perfeito, bem como de inspiração, para
uma musica radicalmente politica da banda.

A influencia original dos Dead Kennedys veio de primeira onda dos punks ingleses, como os Sex Pistols. Mas eles logo se desiludiram com a anarquia dessas bandas e criaram sua própria versão do movimento punk.

Fresh Fruit... é um album inteligente e bem humorado que satiriza o panorama social desolador de sua época. "Holiday in Cambodia" é um ataque feroz aos yuppies, enquanto "Kill the Poor" é uma trilha sonora mordaz para o sarcástico texto Modesta Proposta, em que Jonathan Swift propõe que as famílias comam seus filhos como solução para a pobreza. Para demonstrar que todo o seu desprezo não estava reservado apenas à extrema direita, Biafra disparou sua metralhadora giratoria no governador democrata Jerry Brown em "California Uber Alles", descrevendo-o com um "fascisa zen".

Ainda que o interesse pelos Dead Kennedys estivesse muito centrado nas letras de Biafra, a inteligencia e a contundencia de suas musicas o separou da limitação dos três acordes caracteristicos da musica punk. A introdução cataclismatica de "...Cambodia" confere o tom dark da musica, enquanto "California" é bombástica, como um comício de Nuremberg numa praia californiana.

Mesmo que, em ultima instancia, os Dead Kennedys tenham perdido a batalha contra Reagan e as forças de direita, como grito de guerra
poucos discos se comparam a este.

The Clash - London Calling (1979)


O Clash pode ser acusado de ter diluido o punk rock em
digressões estilisticas e de discursar sobre politica sem realmente
saber nada sobre isso, mas, um quarto de seculo depois do lançamento de
sua obra-prima, London Calling, o album continua sendo o que melhor
ofereceu uma saída vital para o solipsismo do punk.

London Calling foi o testamento definitivo do Clash, depois do manifesto punk de seu primeiro album e do agrado ao publico americano de Give'Em Enough Rope. A parceria entre Joe Strummer e Mick Jones abarcava agora outras influencias, alem do punk e do reggae, como o
rockabilly ("Brand New Cadillac"), o pop ("Lost In the Supermarket") e o R&B ("I´m Not Down"), enquanto Simonon oferecia o hino dark "Guns of Brixton". "Spanish Bombs" era um protesto politico genuíno; a faixa-titulo, com sua linha de baixo galopante, a guitarra cortante e o
vocal gutural, garantiu a banda seu maior sucesso em single ate então.

Mas o que faz o amalgama do disco é a produção firme de Guy Stevens. Um empreendedor genial da industria do disco desde o final dos anos 60, Stevens tinha caído em desgraça em meados da decada de 70, mas seu entusiasmo fez a banda deixar de lado sua postura intimidatoria e ele conseguiu extrair o melhor dela.

A capa faz uma referencia consciente a do primeiro album de Elvis, embora a foto, feita por Pennie Smith, de Simonon prestes a esmagar o baixo, seja punk puro. Este é um daqueles raros discos que tanto definem sua época como mostram seus criadores no auge de seu talento.
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