Cidade Web Rock - Promoção

Território da Música: Artigos (Rock)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

The Cult - Eletric (1987)


Este é um disco preciso, sem ornamentações, cheio de riffs tirados das prateleiras onde estavam os nomes Jimmy Page e Angus Young. Eletric é o som do The Cult depois de abandonar suas raízes góticas e indies e fazer uma memorável tentativa de atingir um publico capaz de lotar estadios. Sob o controle firme do extraordinário headbanger Rick Rubin, a audáciosa virada da banda foi um sucesso em todos os sentidos, elevando o cantor Ian Astbury, o guitarrista Billy Duffy, o baixista Jamie Stewart e o baterista Les warner ao ápice de suas carreiras. Os jovens dos subúrbios britanicos ouviram Eletric e descobriram que o rock com atitude não era privilégio dos americanos.

Ainda que as principais caracteristicas de Eletric - Astbury deformando "Yee-aah!", os riffs cortantes de Duffy e a capa escandalosa (uma homenagem às capas dos LPs do Grateful Dead criadas por Rick Griffin nos anos 60) - possam parecer ultrapassadas hoje, o album ainda se mantem de pé graças à sua formidável lista de singles. "Lil´Devil" baseava-se num riff contagiante, enquanto "Love Removal Machine" é o som da cena independente deixando crescer seu cabelo e roubando uma guitarra Les Paul. "Aphrodisiac Jacket" representa o lado mais indie da banda. Musicalmente, Duffy, o compositor principal,estava conseguindo "cometer o crime perfeito", tendo baseado as duas músicas numa progressão de acordes trivial, ré/dó/sol, como tinha feito no album anterior com "Rain" e "She Sells Sanctuary".

"Deixem de lado a cena musical independente inglesa e vamos fazer rock!" - disse Rubin na época. Embora esse grito de guerra em particular tenho sido abusado a ponto de se tornar uma paródia, no caso deste album foi totalmente adequado.

The Jesus & Mary Chain - Psychocandy (1985)


Tendo assustado todo mundo com "Upside Down", seu single de estreia em 1984, em Creation - uma sucessão de feedbacks de guitarra e uma bateria neandertalóoides -, Jim e Willian Reid passaram o ano seguinte encantando o publico com uma nova forma de tocar ao vivo. De costas para o publico, criavam uma parede impenetrável de feedback e distorção, cuspiam na imprensa e raramente tocavam por mais que 10 minutos.

Assinaram contrato com a Blanco Y Negro, mas mantiveram Alan McGee como agente e o album de estreia foi um trabalho genial. Universalmente aclamado pela critica musical, é hoje apontado como um dos melhores albuns de estreia de todos os tempos. Os dois irmãos escoceses descobriram um filão nunca antes explorado, fundindo o pop de praia dos Beach Boys muito reverb, alem da bateria primal de Bobby Gillespie.

Em geral as pessoas se lembram dos tres singles - "You trip Me Up", "Never Understand" e "Just Like Honey" -, mas o album é eletrizante do principio ao fim. Sua influencia é incalculável. Qualquer banda com uma predileção por pedais de efeito e um ouvido para melodias vigorosas deve algo a este disco. Voce não pode mais assistir ao grupo ao vivo, mas este album é o mais proximo que se pode chegar daquilo que um jornalista comparou a "uma serra elétrica num tufão".

Siouxsie And The Banshees - The Scream (1978)


The Scream fez a ponte entre o punk e o gótico, com uma musica que combina o carater do tipo "faça voce mesmo" do primeiro com o senso sombrio de drama do segundo. No final dos anos 70, o cabelo bem preto e espetado e a maquiagem pálida de Sioux a tornaram um ícone. Dessa forma, é surpreendente que não esteja na capa deste album, que traz imagens bonitas e misteriosas de nadadores anonimos debaixo d´agua.

A mensagem pode ser a de que o disco era um trabalho de toda a banda. Na faixa "Carcass", a interação bem azeitada entre o animado baixo de Steve Severin e o potente trabalho de bateria de Kenny Morris se destaca de forma até mais contundente do que o vocal vigoroso de Sioux. É uma musica tocada de maneira descomplicada e inteligente e executada com paixão.

"Helter Skelter", a unica faixa não original de The Scream, ganha uma leitura mais febril do que a dos Beatles; a guitarra agoniada de John McKay tem sua vitrine em "Metal Postcard (Mittageisen)". Os Banshees já tinham deixado para trás a raiva objetiva do punk para lidar com areas mais complexas, como o trauma psicologico (em "Suburban Relapse" e "Jigsaw Feeling").

Nas duas faixas finais, McKay pega o sax e adiciona um lamento adequado à mistura dos Banshees. O album se encerra com a dramatica "Switch", uma microepopeia de quase sete minutos, narrada, tanto na letra quanto na musica, como uma comovente novela.

The Scream era um atestado de elegancia desordenada de uma banda que, mais adiante, exploraria a desordem e uma elegante melancolia por toda uma carreira de sucesso.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sex Pistols - Never Mind The Bollocks Here´s the Sex Pistols (1977)


Numa década de convulsão social, a vetusta fachada da
Inglaterra dos anos 70 estava ruindo sob os altos índices de desemprego
e apatia. O país inteiro parecia estar de ressaca e o otimismo dos anos
60 era apenas uma lembrança distante. Nesse momento surgiu este album,
um chute entre as pernas tão literal quanto seu título. Quando os Pistols começaram a se apresentar em shows, perigava
a fama do grupo ser maior do que a musica. Essa sensação se tornou mais
intensa com a luminosa capa de Jamie Reid. Por conta da logomarca
simbólica e da expressão obscena estampada, muitas lojas se recusaram a
vender o disco e o caso chegou a ser levado para Justiça (acabou
anulado depois que Richard Branson chamou um professor de linguística
para testemunhar sobre as origens não-obscenas da palavra). A forma
quase eclipsou o conteúdo, mas os passos de marcha que iniciam
"Holidays in the Sun" foram um aviso maldoso de que, por trás do
projeto gráfico, havia um album que estava prestes a alterar a
percepção de musica, moda e atitude de toda uma geração. O disco traz a ferocidade de "Bodies", que levanta o tema do
aborto, e o riff simples, mas eficiente e devastador de Steve Jones em
"Pretty Vaccant", que deu esperança a todos os guitarristas inúteis do
mundo. "Anarchy in the U.K." é o grito mais famoso do album, mas "God
Save the Queen" se equivale como epicentro da raiva. Johnny Rotten
torce e esculpe cada nota no fomato de uma flecha de injúrias
diretamente apontada contra a realeza. Poucos momentos na musica
popular são comparaveis ao berro gutural de Rotten: "No future for
you". Os anos da infelicidade da juventude inglesa estão encapsulados
no album desde então.

The Clash - The Clash (1977)


Posto, muitas vezes - sem merecer -, em segundo plano em
relação aos Sex Pistols, o Clash fugiu do padrão autodestrutivo do punk
e optou por musicas com um aguçado conteúdo político, slogans atraentes
e roupas de vanguarda. A capa em verde, preto e branco traz Joe Strummer, Mick Jones e
Paul Simonon, numa foto tirada durante os ensaios em Londres, e combina
com a musica sem enfeites das 14 faixas deste seu primeiro album,
gravado em tres fins de semana, em 1977. O estilo gritado de cantar de
Strummer, quase incoerente, se encaixa à perfeição nas guitarras
intermintes de faixas como "I´m So Bored With the USA". O trabalho do Clash foi várias vezes tachado de panfletário,
mas a letra de "Career Opportunities" retrata, de forma brilhante, as
perspectivas da juventude: o trabalho humilhante ou o
seguro-desemprego. Uma das maiores qualidades da banda era sua
capacidade de absorver outros generos musicais. A versão de "Police and
Thieves", de Junior Murvin e Lee Perry, mostra o baixo de Simonon
sobreposto as guitarras, ao mesmo tempo que a bateria de Terry Chimes
(tambem conhecido como Tory Crimes, num trocadilho com o partido
conservador inglês) pontua a musica num ritmo rápido. Esse arranjo
causa impacto e reaparece em outros momentos do album. O Clash estava no meio de um caldeirão multicultural. Cercada
pelas influências do reggae, do ska e do rock tradicional, a banda
tinha uma leitura politica e musical muito mais ampla do que a visão
míope dos grupos punks da época. O estilo incendiário do Clash e seu gosto pela ação podem ser
ouvidos hoje em grupos como os Libertines, que tiveram seu segundo
album produzido por Mick Jones. O mundo dá voltas...

Ramones - Ramones (1976)


Da capa simples, com a foto da banda em preto-e-branco, a seu
conteudo incendiario, o primeiro album dos Ramones é o manifesto
definitivo do punk. Gravado em dois dias com o irrisorio orçamento de US$ 6 mil,
Ramones despiu o rock ate sobrarem apenas seus elementos básicos. Não
ha solos de guitarra e enormes fantasias épicas, o que ja era
revolucionario numa epoca em que imperava o hard rock cheio de
penduricalhos, do tipo Led Zeppelin. As faixas, de cerca de tres
minutos apenas, são impulsionadas pelos furiosos quatro acordes da
guitarra de Johnny Ramone e pela bateria colossal de Tommy. E, apesar
de as musicas serem curtas e afiadas, a paixão do grupo pelo rock dos
anos 50 e pelas bandas femininas garantiu uma certa doçura melódica. As letras são muito simples, tratando, em banho-maria, dos
desejos e necessidades dos adolescentes. Joey Ramone berra para dizer o
que quer ("I Wanna Be Your Boyfriend", "Now I Wanna Sniff Some Glue") e
o que não quer ("I Don´t Wanna Walk Around With You"). Apenas "53rd and
3rd" - toca em algo mais profundo e significativo. O álbum foi elogiado, no lançamento, por um pequeno circulo de
jornalistas (a revista Creem publicou que "se os sucessores dos Ramones
valerem pelo menos um terço deles, estamos feitos para o resto da
vida"), mas não conseguiu entrar nos Top 100 dos EUA nem entre os 40
Mais da Inglaterra. Mas os poucos garotos que compraram o disco
entenderam que seu minimalismo melódico exagerado era um chamado. Os
Sex Pistols, The Clash e os Buzzcocks usaram os quatro acordes dos
Ramones para expressar a frustração com o Rock sem graça e acomodado da
época. Nunca mais a revolução teria um som tão simples.

Television - Marquee Moon (1977)


Dentre as principais bandas do mundo punk criado no clube
nova-iorquino CBGB's, o Television foi a que teve menos sucesso
comercial. No entanto, seu melhor momento, o album Marquee Moon, foi
tão bom, ou melhor, quanto aos trabalhos seminais de alguns de seus
contemporâneos, como Horses, de Patti Smith (os dois traziam uma
fotografia de Mapplethorpe na capa) e o disco de estréia dos Talking
Heads. Depois de bater na porta de varias gravadoras, o Television
assinou contrato com a Elektra em 1976. A banda estava sem seu baixista
original, Richard Hell, que havia deixado o grupo para formar os
Heartbreakers, com Johnny Thunders. O baixista Fred Smith era um
substituto à altura, mas sua maior contribuição foi apresentar Tom
Verlaine a Andy Johns (irmão de Glyn Johns), que tinha experiência
suficiente para não arremedar o indefinido som jazz-punk desenvolvido
no CBGB's. O resultado foi um inigualável disco a base de guitarras. Dando
as costas para o som bluseiro qeu dominava a guitarra desde o rock dos
anos 60, o Television criou um trabalho que, a seu jeito, é tão radical
quanto o melhor do Led Zeppelin. O album começa com a agitada "See no
Evil", na qual Verlaine e Richard levam suas guitarras ardentes a uma
celebração crescente da poluição urbana e da cultura das ruas. A
faixa-titulo, de 11 minutos, pode levar alguem a comparar o grupo com
as bandas hippies, mas não há flower power - só power - em "Prove it" e
"Guiding Ligth". Marquee Moon teve uma recepção indiferente por parte do
publico, mas foi aclamado pelos criticos, incluindo Nick Kent, na NME,
que, entusiasmado, escreveu que "as canções estão entre as melhores de
todos os tempos".
Google