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Território da Música: Artigos (Rock)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Patti Smith - Horses (1975)


Horses reescreveu as regras sobre estrelas femininas do pop traçou um novo mapa para todas as artistas, de Chrissie Hynde e Johnette Napolitano a Courtney Love e Liz Phair. E o impacto causado pelo album de estreia de Patti Smith não se limitou apenas a um gênero sexual. A cantora combinou o poder do crescente cenário punk de Nova York com as narrativas ousadas dos poetas beat de São Francisco, criando um som verdadeiramente único, que influenciou grupos como o Talking Heads e o R.E.M.. Smith, com a ajuda do produtor John Cale, apresentou um trabalho tão nu e hipnótico, tão pessoal e cheio de dor, que não perdeu sua força em 30 anos. O album era uma obra de arte completa, a começar pelo retrato de Smith na capa, maravilhosamente sincero, feito por Robert Mapplethorpe. Horses começa com a releitura total de "Gloria", Van Morrison, na qual a cantora apresenta um dos melhores versos de abertura da história do rock - "Jesus died for somebody´s sins, but not mine" ("Jesus morreu pelos pecados de alguém, mas não pelos meus")- e depois, entra num carrossel vertiginoso de sons em "Redondo Beach". Sua empreitada de exploração de composições longas é inaugurada neste disco, com um tom dramático, nas epopéias "Birdland" e "Land", ambas com nove minutos. A guitarra urgente de Lenny Kaye é fundamental na construção de faixas como "Break It Up". Mas foi a interpretação singular de Smith, uma mistura de dos recitais de Burroughs com o rosnar de Lou Reed, que marcou a diferença entre "Free Money" e "Kimberly" e tudo o que havia sido feito antes - e mesmo depois. Horses foi aplaudido pelos críticos mas teve um modesto desempenho de vendas, chegando ao 47º lugar nas paradas da Bilboard. O mais importante é que o album consagrou Smith como a principal poeta do punk rock, um título que ela ainda não perdeu.

Devo - Q:Are We Not Men? A: We are Devo! (1978)


Na música pop dos anos 70, os sintetizadores eram muito utilizados em gravações de música disco e nas produções elaboradas de estúdio rock progressivo, como as do Yes. Não eram, portanto, instrumentos de performances punk, embora o Kraftwerk tivesse feito uso especial de sintetizadores quando explorou temas sobre a loucura, no estilo punk, em sua música pré-techno. Loucura era a moeda forte do Devo, o quinteto de Ohio que, em seu álbum de estréia, o explosivo Q:Are we Not...em 1978, produzido por Brian Eno, enfeitou o som potente da guitarra do punk com sintetizadores metálicos e dissonantes. Na verdade, o grupo até usou o o instrumento de forma econômica em Q:Are We..., se comparado com o mar de sintetizadores que marcou trabalhos posteriores, como Freedom of Choice, de 1980. Os quatro álbums do Devo lançados entre 1978 e 1981 se ligavam tematicamente. O grupo formado por ex-estudantes de arte, hábeis satiristas, cultivava uma filosofia do desespero, um tanto vaga - por conta de inovações modernas duvidosas, como a exploração espacial e o fast food, a civilização não estava evoluindo, mas involuindo. Felizmente, o Devo nunca deixou a teoria sociológica ficar no caminho da boa música e só um pouco dessa ideologia é exposta claramente em Q:Are..., um maravilhoso conjunto de músicas dançantes, engraçadas e peculiares sobre tópicos como o retardamento mental e paranóia. É curioso que a música mais famosa e destacada do álbum seja uma versão de "Satisfaction". Mas, enquanto a gravação dos Stones é petulante e sensual, na voz do líder do Devo, Mark Mothersbaugh, a canção se torna um "cri de coer" frenético sobre o sentimento de ser esmagado por uma opressiva cultura de consumo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Emerson, Lake and Palmer - Pictures At An Exhibition (1971)


Sempre dispostos a uma entrada triunfal, Emerson, Lake and Palmer estrearam sua versão rock da obra clássica do compositor russo Modeste Mussorgsky no festival da Ilha de Wight, em 1970, no primeiro autêntico show do grupo. A capa de William Neal tem um efeito um tanto tranquilizador - uma série de molduras vazias numa galeria -, totalmente em desacordo com o impacto da música.É ainda mais digno de nota o trabalho de Emerson no sintetizador Moog, uma inovação raramente encontrada fora do estúdio, por causa da imprevisibilidade do equipamento e porque muitas bandas não consideravam um "instrumento de verdade". Por ironia, o destaque do disco é uma composição de Lake, "The Sage", programada para outro album, mas que se adequou perfeitamente ao clima do show. Essa faixa contém sua melhor gravação ao vivo tocando violão. Por outro lado, "The Hut of Baba Yaga" mostra Emerson aumentando a velocidade da musica no órgão Hammond, com um encorpado trabalho no Moog. Ele muda para um piano boogie-woogie no pastiche de Tchaikovsky feito por B. Bumble And The Stinger, em 1961, chamado "Nut Rocker", e conclui com um estrondo irreverente. Pictures...foi lançado nos EUA apenas depois que os níveis de importação do album tinham se tornado inacreditáveis - e, com isso, o disco foi para o 10º lugar na parada na Bilboard. Com este album, o grupo entrou pela terceira vez em um ano entre os três mais vendidos da Inglaterra, e produziu um som devastador, nos moldes da banda anterior de keith Emerson, The Nice. Para o bem ou para o mal, uma trilha havia sido aberta.

John Lennon - Imagine (1971)


Depois das confissões existenciais de seu album solo de estréia, Plastic Ono Band, o ex-beatle precisava de um sopro de utopia, uma pitada de esperança. Isso, somado à variada musicalidade do disco, garantida por um elenco de estrelas - George Harrison, Klaus Voorman, Nick Hopkins, Jim keltner, Alan White, King Curtis e alguns integrantes do Badfinger -, fez de Imagine um enorme hit, que chegou ao primeiro lugar nas paradas dos Estados Unidos e da Inglaterra, exatamente quando Lennon e Yoko Ono estavam se muadando para a América. Imagine, produzido por Phil Spector no estudio que Lennon havia construído em sua mansão inglesa, Tittenhurst, traz a canção pela qual o mundo se lembra da personalidade mais interessante dos Beatles, um hino á fé do homem num mundo melhor, mesmo diante de uma realidade desesperadora. O album tambem contem algumas das melhores canções de amor já feitas por um homem para uma mulher - "Oh My Love" e "Jealous Guy" - e ainda sua parcela de puro rock´n´roll, ao estilo de Lennon, como no protesto político de "Gimme Some Truth" e na diatribe contra McCartney, "How Do You Sleep?". Algumas faixas lembram o temas instrospecivos do passado, como "Crippled Inside" ou "How?", mas o novo eixo central de vida descoberto por John em Yoko e tambem a produção de Spector - orquestrada mas, ainda assim, áspera - fizeram de Imagine seu disco mais equilibrado e bem realizado. Trata-se do auto-retrato de um homem sensível e, ao mesmo tempo, agressivo, inseguro e arrojado, introspectivo mas socialmente atento. Só a faixa-título, um trabalho de incrível simplicidade (lançada quatro anos depois na Inglaterra, chegou ao primeiro lugar - claro), vai chamar a atenção para esta obra-prima imortal por gerações e gerações.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Jethro Tull - Aqualung (1971)


Dois filmes clássicos de Christopher Guest vem a mente quando se ouve o Aqualung,do Jethro Tull: This is Spinal Tap e A Mighty Wind. O primeiro é um falso documentário heavy metal; o segundo retrata um grupo de folck fictício. De Aqualung em diante, o Tull passou a ser enquadrado no genero do primeiro filme, mas sua inspiração vem do estilo musical do segundo. A faixa-titulo abre o album com ecletismo típico da banda. Num primeiro momento, surge o dedilhar de um violão tranquilo e um piano civilizado; no seguinte, é a vez do baixo frenético e de passagens de bateria - tudo isso coroado por um solo firme de guitarra. "Cross-Eyed Mary" segue um padrão mais tradicional. A flauta caracteristica do vocalista Ian Anderson paira sobre a pulsante linha de baixo de Jeffrey Hammond e os floreados arranjos orquestrais de David Palmer. A música, então, se submete ao reinado da guitarra, embora o piano, os sininhos e a volta da flauta de Anderson desafiem o rock potente do nucleo formado por guitarra, baixo e bateria. As letras de Aqualung se encaixam numa fantástica narrativa que se desenrola ao longo do album e se baseia, em parte, nas experiências de um sem-teto. Essa história faz com que a música singular do disco esteja vinculada a uma mensagem de conscientização, própria da época. O conceito é estabelecido pelo texto da contracapa do album - uma leitura distorcida do primeiro capítulo do Gênesis. Na versão do Tull da narrativa biblica, o homem criou Deus e, depois, o Aqualung. O disco tornou-se um marco instigante do prog-rock-folk. Sua temática não impediu que as faixas cheias de riff fizessem sucesso nas rádios - nem que o album vendesse milhões de cópias.

The Velvet Underground - White Light/White Heat (1967)


Lá pelo final de 1967, o patrono do The Velvet Underground, o célebre Andy Warhol, havia perdido o interesse pelo grupo, o que levou o cantor e letrista Lou Reed a entrar em contato com Steve Sesnick, de Boston. O novo empresário pressionou Reed a imprimir à banda um caráter mais comercial - para o desagrado do baixista e organista John Cale. O lado A de seu segundo LP é notável pela temática perversa, incluindo a melodicamente distorcida faixa-título, que defende o uso de anfetaminas. "The Gift" conta a história tragicomica de Waldo Jeffers, que tem tanto medo de ser traído por sua namorada da faculdade que se envia a ela pelo correio. Cale faz a narração, seu agradável sotaque galês sendo transmitido por um canal, enquanto no outro entra um R&B a meio tempo,entrelaçado com arremedos de guitarra elétrica. "Lady Godiva's Operation" faz uma desconfortável leitura médica da lenda medieval, com os vocais se destacando da mistura psico-noir, num efeito artístico. O lado B puro furor. Em "I Heard Her Call my Name", Cale, o guitarrista Sterlingo Morrison e o baterista Mo Tucker martelam uma veloz base ritimica, enquanto o líder Reed solta a voz em rajadas no estilo free jazz. "Sister Ray" é o despertardor do noise-rock: 17 minutos de sexo, drogas e armas conduzidos por ondas gigantescas de feedback, notas dissonantes e golpes de garage. White Ligth/White Heat foi lançado com ainda menos cópias do que o album de estréia, chegando ao 199º lugar na parada da Bilboard. No entanto, em termos de alta amperagem e liberdade em estado bruto, nada se compara a este disco.
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